Passando vergonha em francês

Eu juro que tento falar francês! Comecei a aprender o idioma com uma professora particular assim que me formei na faculdade de Comunicação. Eu gostava muito das aulas, pois a professora estimulava bastante a conversação e utilizava músicas para estudarmos o vocabulário. Já no mestrado em Língua Portuguesa, estudei francês instrumental (apenas para treinar a leitura).

Introdução bem introduzida, lá vamos nós passar vergonha na França!



Dentro do avião foi tranquilo porque havia uma comissária falando português, até que perdi meu fone de ouvido. Contexto: viagem noturna, luzes apagadas, assento apertado, cobertor embolado etc. Vi um comissário passando e pedi ajuda para achar meu ‘phone’. Eu [me achando] tentei falar em francês, fracassei, parti para o inglês. Agora, perguntem-me se meu inglês é tão incrível assim para explicar a ele sobre a perda.

Eu tentei explicar que a minha vizinha tinha passado por cima da minha cadeira até chegar na cadeira dela e que, possivelmente, esbarrou no fio e o ‘phone’ caiu no chão. Ele disse que voltaria dali a um tempo. A vizinha francesa percebeu que eu perdera algo e achou o ‘phone’ no chão. Agradeci em francês.

O comissário voltou, acendeu a lanterna para iluminar o chão e deu uma bronca em francês na vizinha. Percebi um climão, pedi desculpas e disse: no, it is not my telephone! It is my phone!* E mostrei o headphone*. Eu repeti mil vezes ‘pardon’* aos dois, enfiei o troço no ouvido e fiquei quieta o resto da viagem.

Ao terminar o voo, levantei-me da cadeira e disse à vizinha: Bon Jour! Au revoir!* Bom, pelo menos eu sei as palavras educadas.

Chegando ao local de Desembarque, procurei ansiosamente por meu nome em uma das plaquinhas do pessoal de receptivo e nada! Pânico inicial controlado, ativei o Wi-fi do aeroporto e mandei mensagem para o motorista [o nome e o telefone dele me foram enviados por e-mail quando contratei o serviço].

Ele ligou, ao invés de responder por escrito. Se eu descrever como foi o diálogo de uma brasileira metida a falar francês com um rapaz não nativo falando francês com sotaque**, esse texto não teria fim. Só um exemplo, eu disse que estava no ‘arrive’ e ele, confuso, perguntou 'Arrivè'?

Bom, deu tudo certo, ele chegou e me levou até o hotel. Puxou conversa durante a viagem e me senti à vontade para falar meu francês “macarrônico”.

Fiquei alguns dias em Paris e fui de trem para uma cidade chamada Compiegne para visitar uma grande amiga. Ela, o marido e a filha estão morando lá há sete meses e já estão falando francês.

Fui almoçar com eles em um restaurante da cidade e eles fizeram os pedidos. Bom, eu estava com fome e, quando vi meu prato de frango chegar, falei: ‘pule, pule, pule!’. O garçom não sabia se ria ou chorava e disse: ‘poulet’*. Eu sorri e agradeci.

Na hora da sobremesa, minha amiga cobrou o brownie da filha e o garçom não entendeu. Ela pensou por uns segundos e disse: brrrrroní...

 

 *Notas sobre tradução: 1 – no, it is not my telephone! It is my phone! = não, não é meu telefone, é o fone!; 2 – headphone = fone de ouvido. Só lembrei o nome correto horas depois!; 3 – pardon = perdão; 4 - Bon Jour! Au revoir! = Bom dia! Tchau!; 5 – arrivè = desembarque, chegada. Eu falei a palavra corretamente, mas errei a entonação, pois fala-se “arrivê” com “ê” forte no final; 6 – poulet = frango. Idem à nota anterior, fala-se “pulê” com “ê” forte no final.

**Nota sobre o sotaque do motorista: o rapaz provavelmente era de alguma ex-colônia francesa ou era imigrante, pois o nome pareceu-me árabe.

Nota final: Meia dúzia de leitores, quando me encontrem pessoalmente, peçam-me para contar sobre o diálogo com o motorista no telefone e depois no carro. Ainda teve o papo em francês na lojinha do aeroporto com as vendedoras, algo como: Mim querer chá! 

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