Chip desbloqueado // Chip unlocked

Cena 1 – bar em São Paulo (maio/2022).

- Vou te levar para um bate-coxa, Toru! – convidou Mônica.

- Ok, obrigado – respondeu o rapaz.

Ela continuou falando sobre o evento que participaria na próxima semana, o grupo riu e perguntou detalhes. Percebi que meu amigo japonês legítimo Toru Shida estava prestando atenção sem entender bem o assunto. Resolvi confirmar minha suspeita:

- Toru, você entendeu o que ela disse?

- Não – respondeu sem graça.

No bairro Liberdade em SP

- Bate-coxa é dançar forró.

- Ah, obrigado.

- Você sabe o que é forró?

- Não – sorriu educadamente.

Expliquei que era uma dança em pares muito conhecida no nordeste brasileiro e bastante difundida em São Paulo.

Conheci Toru Shida e um casal de japoneses na barca que faz a travessia Rio-Paquetá* e isso rendeu uma crônica sobre o acontecimento em março de 2020 e outra sobre diferenças fonéticas em fevereiro de 2023.

Esse texto não é sobre barcas, fonética ou danças, mas sobre minha capacidade de puxar conversa com desconhecidos, de agregar pessoas, de falar sobre vários assuntos, enfim, sobre ter vindo com o chip da comunicação desbloqueado de fábrica.

Cena 2 - bairro Liberdade, São Paulo (set/22)

Pedi ao Toru que nos levasse ao bairro Liberdade, no qual é predominante a cultura japonesa. Nossa vez de não entender nada, pois os mercados vendem produtos originais, com os rótulos e as etiquetas de preço escritos no idioma japonês. Toru nos explicou várias coisas e nos proporcionou uma experiência incrível. Foto 1

Cena 3 - pizzaria no Rio de Janeiro (jan/2023).

O evento é: Aniversário do Ivan, que conheci em Vraja Bhumi, Teresópolis, fazendo retiro de Yoga no Carnaval em 2020. Neste evento estava a Juliana, que também é minha conhecida do retiro, mas a conheci antes, em 2019. Pausa. Eu sei, é muito assunto. Respira.

Na pizzaria estava a Taynnara, amiga da Juliana que estuda japonês. Tá ligando os pontos?

Mal conheci Tay (minutos de conversa e já a chamo pelo apelido) e decretei que, quando Toru viesse ao RJ, ela o conheceria para treinar o idioma.

Semanas depois, Toru veio ao RJ, convidei Juliana e pedi que avisasse Tay (não peguei o telefone dela). Juliana não poderia ir, mas ficou de avisar Tay. Entretanto, não me retornou.

Cena 4 – bar em Rio de Janeiro (fev/2023). 

Evento: para encontrar Toru aqui no RJ, convidei mais um casal de amigos e havia outra amiga no evento. Cheguei atrasada e vi uma moça sentada em frente ao Toru. Foto 2

- Ué, você veio?


Encontro aleatório

- Sim – sorriu Taynnara sem jeito. – A Ju não te falou...

- Não, tranquilo. Mas que ótimo, já está conversando como Toru! Já falou em japonês com ele?

Acho que não esperei a resposta porque pedi um chopp ao garçom, olhei o cardápio, contei ao grupo como conheci Tay e no mesmo instante decidi que o evento daria uma crônica de nome “Chip desbloqueado”.

- Ou “Encontro aleatório” – respondeu Taynnara rindo.

 


PS: 1 - voltando à Mônica, ela é minha prima e por acaso é sagitariana como eu e me confirmou que também puxa conversa com desconhecidos...

2 - confirmei com um pernambucano que bate-coxa = dançar forró 

*A foto dos três japoneses da barca Rio-Paquetá está na crônica “Japonesa canta Bossa Nova em Paquetá, de março de 2020.

 ===============//////=================/////==============

Chip unlocked

Scene 1 – bar in São Paulo (May/2022).

- I'm going to take you for a “bate-coxa”, Toru! – invited Monica.

- Ok, thank you – replied the man.

She continued talking about the event she would participate in next week, the group laughed and asked for details. I realized that my legitimate Japanese friend Toru Shida was paying attention without really understanding the topic. I decided to confirm my suspicion:

- Toru, did you understand what she said?

“No,” he replied awkwardly.

- “Bate-coxa” is to dance “forró”.

- Ah, thank you.

- Do you know what “forró” is?

- No – he smiled politely.

I explained that it was a pair dance very well known in northeastern Brazil and quite widespread in São Paulo.

I met Toru Shida and a Japanese couple on the ferry that crosses Rio-Paquetá* and this led to a chronicle about the event in March 2020 and another about phonetic differences in February 2023.

This text is not about boats, phonetics or dances, but about my ability to strike up conversations with strangers, to bring people together, to talk about various subjects, in short, about being born with the communication chip unlocked.

Scene 2 – Liberdade neighborhood, São Paulo (September/22)

I asked Toru to take us to the Liberdade neighborhood, where Japanese culture is predominant. Our turn to not understand anything, as the markets sell original products, with labels and price tags written in Japanese. Toru explained several things to us and gave us an incredible experience. Photo 1

Scene 3 - pizzeria in Rio de Janeiro (Jan/2023).

The event is: Ivan's birthday, who I met in Vraja Bhumi, Teresópolis, doing a Yoga retreat during Carnival in 2020. Juliana was at this event, who is also my acquaintance from the retreat, but I met her before, in 2019. Pause. I know, it's a lot of stuff. Breathe.

At the pizzeria was Taynnara, Juliana's friend who studies Japanese. Are you connecting the dots?

I met Tay (minutes of conversation and I already call her by her nickname) and I decided that, when Toru came to RJ, she would meet him to practice the language.

Weeks later, Toru came to RJ, I invited Juliana and asked her to tell Tay (I didn't get her phone number). Juliana couldn't go, but she said she would invite Tay. However, Juliana did not get back to me with Tay's response.

Scene 4 – bar in Rio de Janeiro (Feb/2023). Photo 2

I invited some friends to meet Toru at the bar. I arrived late and...

- Hey, did you come?

- Yes – Taynnara smiled awkwardly. – Ju didn’t tell you...

- No, calm down. But that's great, because you're already talking to Toru! Have you spoken to him in Japanese?

I think I didn't wait for the answer because I asked the waiter for a beer, looked at the menu, told the group how I met Tay and immediately decided that the event would be turned into a chronicle called “Chip unlocked”.

- Or “Random encounter” – Taynnara replied, laughing.

 

PS: going back to Mônica, she is my cousin and is a Sagittarius like me. She confirmed to me that she also strikes up conversations with strangers...

**The photo of the three Japanese people from the boat "Rio-Paquetá" is in the chronicle “Japanese sings Bossa Nova in Paquetá”, from March 2020.

 

Comentários