Eufrásia na pandemia - parte 2: Trabalho // Euphrasia in the pandemic part 2: work

Alguns chegavam cedo. Eram os mais quietos. A hora avançava e chegavam os outros personagens. Alguns conversavam um pouco mais alto, mas nada que chamasse muita atenção. Lá pelas tantas chegavam os mais agitados.

Nessa hora, ficávamos sabendo de vários assuntos aleatórios: um estava de ressaca, o outro gastou um bom dinheiro num tablet, a outra achava que o pai não gostava dela, a outra contava que o filho vomitou de noite e um outro reclamava que o mercado estava cheio. Eu também ficava sabendo qual era o placar de todos os jogos de futebol e quais os xampus para todos os tipos de cabelo.

Era um misto de salão de beleza com consultório de psicologia, com tendência à feira livre, dado o tom de voz elevado. Uma vez reclamei do barulho e me chamaram de implicante. Depois disso não falei mais nada, só assistia o boteco se movimentar, depois se acalmar, pois era preciso trabalhar, afinal.

Eufrásia, a gorda que me habita, ficava especialmente nervosa quando havia lanche, dado que nos sentávamos ao lado do gaveteiro usado como mesa. Frequentemente, havia festinha de aniversário, de despedida, de boas-vindas, de atendimento de prazo etc.

No lugar de lanche, festinha e comemoração, leia-se: farinha, açúcar e gordura. Os itens bombásticos da eterna guerra de Eufrásia contra a taxa alta do colesterol e dos triglicerídeos.

- Resista, Gigi.

- Ai, Eufrásia, sinta o cheiro da empadinha de queijo.

- Não olhe para ela!

- E o bolo... hummm... morango com chantili...

- Ou você resiste ou vamos ficar mais tempo caminhando na esteira da academia, aquele lugar que você ama!

- Não joga pesado...

- Já sei! Antes do lanche, você come as frutas que nós trouxemos, assim, enche a barriga com coisas saudáveis e não come as outras gordices.

Isso até funcionava psicologicamente, mas, logo que abriam a caixa de empadinha e o cheiro invadia meu nariz, eu as atacava. E, após os parabéns, já havia um pedaço de bolo na minha mão. Seria deselegante recusar.

Antes da pandemia eu achava que o teletrabalho não era uma boa opção para quem mora sozinha, dado que eu perderia o contato com os colegas de trabalho.

Um ano e pouco trabalhando em casa, agradeço o silêncio, porém sinto falta das empadinhas.

empadinha de queijo, imagem da internet*




*https://paladar.estadao.com.br/receitas/empadinha-de-queijo,10000012623

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Euphrasia in the pandemic part 2: work

Some arrived early. They were the quietest. The hour progressed and the other characters arrived. Some talked a little louder, but nothing that drew much attention. Later, the most agitated arrived.

At that time, I learned about several random subjects: one was hungover, the other spent a lot of money on a tablet, the other thought his father did not like her, the other said that his son vomited at night and another complained that the supermarket was full. I also knew from them what the score was on all football games and what shampoos for all types of hair.

It was a combination of a beauty salon and a psychology practice, with a tendency to street markets, considering the high tone of voice. I once complained about the noise and they called me a tease. After that I didn't say anything else, I just watched the "Bar" movement, then it calm down, because it was necessary to work, after all.

Euphrasia, the fat woman who lives inside me, was especially nervous when there was a snack, since we sat next to the drawer used as a table. Often, there was a birthday party, farewell party, welcome party, term attendance, etc.

Instead of snacks, parties and celebrations, read: refined wheat flour, sugar and fat. The bombastic items of the eternal war of Euphrasia against the high rate of cholesterol and triglycerides.

- Resist, Gigi!

- Oh, Euphrasia, smell the Patty Cheese.

- Don't look at them!

- And the cake ... hummm ... strawberry with whipped cream ...

- Either you resist, or we will spend more time walking on the treadmill at the gym, that place you love!

- Don't play hard ...

- I already know the solution! Before the snack, you eat the fruits that we brought, so you fill your belly with healthy things and don't eat the other fats.

It even worked psychologically, but as soon as they opened the box of Patty Cheese and the smell invaded my nose, I attacked them. And, after the congratulations, there was already a piece of cake in my hand. It would be inelegant to refuse.

Before the pandemic, I thought that working at home was not a good option for those who live alone, since I would lose contact with my co-workers.

A year later, I appreciate the silence, but I miss the Patty Cheese.