Duas Irlandas - Agosto de 2014

A saída de Londres foi um tanto confusa, conforme comentei no final do texto anterior, mas deu tudo certo e chegamos cedo a Dublin, capital da República da Irlanda. Se você gosta de pesquisar sobre os lugares por onde vai passar em sua viagem como eu, para entender a ilha irlandesa, pre-ci-sa ler o livro Trindade - O Romance da Irlanda, de Leon Uris. Nele você vai conhecer um pouco da história do Ulster, ao norte da ilha e que representa mais ou menos um terço dela e é ligado ao reino Unido, e da República da Irlanda, independente desde 1922 e que representa dois terços. Enfim, vamos comentar um pouco sobre essa divisão ao longo do texto.




Como chegamos de manhã a Dublin, deu tempo para um City Tour no ônibus turístico. O inglês irlandês é difícil e rodamos a cidade sem entender p. nenhuma das explicações gravadas e reproduzidas nos fones de ouvido que o ônibus disponibiliza aos visitantes, porém chegamos ao destino desejado olhando sempre o mapa e o número da parada até Temple Bar!



Fotos da esquerda. 

Não é o nome de um bar, mas de uma área situada na margem sul do Rio Liffey, no centro de Dublin, cheia, lotada, muvucada de bares. Ao contrário de outras áreas circundantes, Temple Bar preservou a sua planta medieval, com muitas ruas estreitas e calçamento de pedras. O lugar é muito simpático, quase todos os bares têm música ao vivo, a decoração externa mistura a beleza das flores com a arquitetura bacana e muitas cores.


 Ao lado direito, foto do Hotel Blooms, sobrenome dos personagens principais do livro Ulysses, de James Joyce, escritor irlandês. A fachada está pintada com alguns dos personagens e, em destaque, Molly Bloom.

Após muitas fotos das fachadas dos bares, fomos atraídas (éramos cinco mulheres) pelo o anúncio do Irish Coffee (café com whisky) e entramos em um deles. Para minha sorte, segui a dica de quem já conhecia a bebida e pedi o Baileys’ Coffee (licor típico irlandês com café). Simplesmente delicioso e mais suave do que o feito com whisky. Geeeente, as bebidas não são só gostosas, são fortes e deixaram a mulherada de pilequinho e com calor! Para variar só as brasileiras rindo, falando pelos cotovelos e tirando fotos! Depois da onda de calor e risadas, conseguimos nos recompor, como moças comportadas que éramos (ou somos?), e pegamos o ônibus turístico para voltar ao hotel.

No dia seguinte foi o City Tour da excursão à cidade de Dublin e percorremos quase todos os lugares por onde o ônibus turístico passara no dia anterior, mas agora com explicações em Espanhol. Um detalhe sobre guias na Europa (não sei em outros lugares): a nossa guia portuguesa não pode guiar um grupo em outro país, no sentido de explicar sobre o lugar, e deve contratar um guia local. Mas não havia um guia irlandês que falasse Português, mas um que falava Espanhol. E assim fomos vendo a cidade em um idioma mais compreensível do que o inglês gravado e “falado” no ônibus no dia anterior.

 A parada principal e muito especial foi ao Colégio de Trinity (Trinity College Dublin) e sua maravilhosa Biblioteca, onde vimos o Livro de Kells (Book of Kells), datado do ano 800 e um dos mais belos manuscritos iluminados do mundo. Na biblioteca também estão os bustos de alguns ilustres irlandeses e a harpa mais antiga do país, que também é um dos símbolos nacionais. Para variar, não consegui uma boa foto e capturei essa da internet, pois não poderia deixar de compartilhar essa maravilhosa biblioteca com minha meia dúzia de leitores!



Continuamos de tarde para Belfast, capital da Irlanda do Norte (ou Ulster) e visitamos o Titanic Belfast. Edifício gigantesco que abriga um centro de visitas distribuído por nove galerias que, por meio de uma exposição interativa, conta a história do navio Titanic desde a sua construção até o seu final trágico em 1912. Eles reproduzem o parque de obras, as cabines econômicas e as de luxo assim como situam-nos à época em que tudo aconteceu. Como não me importo nem um pouco em ser turista, não resisti e paguei sete Libras por essa fotomontagem.

Observação sobre uma das questões das duas Irlandas: Belfast é a capital do Ulster, parte norte da ilha que é ligada ao Reino Unido, logo, a moeda é a Libra. A República da Irlanda adotou o Euro.

A visita panorâmica da cidade de Belfast foi uma grande surpresa e não posso dizer agradável, apesar dos belos prédios que vimos na parte central. É que fora do centro, nos bairros onde moram os trabalhadores, há muros separando os Católicos e os Protestantes. Achei que a paz estivesse estabelecida após a deposição das armas do IRA (Irish Republican Army, o Exército Republicano Irlandês) em 2005, mas pelo visto eles não se misturam de jeito nenhum. Parece que só convivem no centro em locais onde trabalham juntos, mas não se sentam à mesa de um bar, por exemplo. Como foi um City Tour rápido, apurei pouca coisa da história recente do Ulster. Além do mais o livro que li e recomendei vai até 1916. Mas fiquei curiosa, pesquisei e achei o blog do Lúcio Mattos, Cronista do Reino, com a narrativa dos dias que passou lá em abril de 2014. Ele conta com detalhes históricos e muitas fotos a situação atual em Belfast no texto Troubles e também indica livro e filme sobre o assunto.

Continuamos para Norte até à costa de Antrim e chegamos à região da Calçada do Gigante (Giants Causeway). Esta paisagem formou-se a partir de erupções vulcânicas e do arrefecimento da lava. No entanto, a lenda conta que estas formações foram feitas pelo gigante Finn MacCool para poder chegar à Escócia onde vivia um gigante rival. 

A Calçada do Gigante faz parte do Patrimônio Mundial da UNESCO e é considerada a oitava maravilha do mundo.


 No dia seguinte, fomos ao Condado de Donegal ver os penhascos de Slieve League conhecidos por serem as falésias mais altas da Europa. Chovia, ventava e fazia um frio de doer, o que não anulou o impacto positivo ao deparar-me com tanta beleza. Ainda não contei que na confusão do aeroporto, saindo de Londres para Dublin, eu perdi a máquina fotográfica! Por sorte (e acho mesmo que há um santo protetor dos viajantes-cabeça-de-vento), eu acabara de trocar o cartão de memória! Logo, eu trouxe comigo o cartão cheio com as fotos da Inglaterra e da Escócia e perdi a máquina com um cartão quase vazio. 
Por isso, mais uma vez, como a foto tirada com o celular ficou ruim, recorri à internet para poder mostrar essa maravilha que a natureza nos proporcionou.


Dia seguinte, mais um espetáculo da natureza; percorremos a região de Connemara, famosa pelo seu romantismo e pela sua inalterável beleza. Salpicada de lagos e montanhas escarpadas é o verdadeiro paraíso para os amantes da natureza. Visitamos a Abadia de Kylemore (foto da direita), construída originalmente como um castelo é hoje uma abadia beneditina e um dos melhores exemplos da arquitetura neo-gótica irlandesa. Não sou muito de tirar fotos de mim (nem posando, nem em selfies), mas não pude deixar de me registrar nesse cenário fantástico! Ao fundo, na foto da esquerda, era o colégio interno, hoje desativado.

O penúltimo dia na República irlandesa nos brindou com a paisagem fantástica dos Penhascos de Moher (Cliffs of Moher), uma das maiores atrações do país. Estes impressionantes penhascos erguem-se a 230 metros do solo e estendem-se ao longo de 8 km pela costa. O lugar é enorme e a cada passo, a cada ângulo diferente, a cada foto, a impressão de que o criador estava inspirado.

Além da beleza natural, de tantos em tantos metros há um músico tocando seu instrumento. Como amei o lugar e seus músicos (conversei com a maioria), dedico várias fotos a eles e ao lugar. 
Logo que comecei a subir, encontrei essa senhora, que logo me deu papo. Depois, esse senhor fofinho com outro tipo de acordeon adorou saber que eu era brasileira.




Só quem não parou de tocar para conversar foi o músico da harpa. Pudera, a música era tão divina, que ele não poderia parar para conversar com uma pobre mortal como eu! 

Por fim, prometi ao Benny que o adicionaria no Face, mas... perdi seu cartão... sorry.


Agora, as paisagens de tirar o fôlego! A foto da esquerda é quando se está subindo pelo lado esquerdo do local. Dali se vê ao longe a torre, que fica na subida do lado direito.










Depois de subir horrores, você chega à torre e, depois dela, ainda suspira com a paisagem que vê adiante.



O último dia foi dedicado a um programa mais urbano e, em Kilbeggan, visitamos a destilaria Locke's, onde era produzido o famoso whisky irlandês, hoje transformada em museu. Degustei-o cawboy novamente, mas, dessa vez, engasguei... Sem fotos do "mico"! 

À tarde deu tempo de ir novamente à Temple Bar e, para nossa surpresa, em um dos bares estava tocando samba! Ora, entramos e nos deparamos com brasileiros tocando. Conversamos um pouco, eram de São Paulo e moravam lá. Desta vez, resisti a tentação de beber outro Baileys’ Coffee, pois haveria o jantar com música e dança típicas irlandesas.

Não me lembro se o jantar foi "típico", mas certamente tinha batatas! Durante os dezesseis dias em que estive na Inglaterra, Escócia e Irlanda, não houve um dia em que não comesse batatas no almoço e no jantar. Não é uma reclamação, é uma constatação, ok?!

A dança típica, o River Dance, é diferente de tudo que já vi, pois é um tipo de sapateado, mas com a batida muito forte e marcada. O mais interessante da noite foi ouvir a música irlandesa, a qual deu origem à música country americana. Afinal, os Estados Unidos receberam vários e vários imigrantes irlandeses e, com eles, também foram os instrumentos e a música. E, além da música, várias das tradições americanas, como o Halloween, têm origem Celta (ancestrais do norte das ilhas britânicas, que influenciaram a cultura irlandesa e escocesa). Gigi também é cultura!

Por fim, posso dizer que AMEI a República da Irlanda e todas as paisagens irlandesas. Um país com história e natureza fortes. A beleza das paisagens é poderosa como a convicção de seu povo. Seja qual for a religião, são apegados e a defendem com ardor. Povo, história e paisagens fantásticos.

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