Eufrásia nas aulas de escrita

Exercício 1 – Procurar uma palavra que te mobilize, desdobrá-la em outras e formar uma frase:

BERINJELA
B_ _ _ _ELA
_ _ _ _ _ELA
_ _ _ N_ELA

A berinjela, que bela. Que singela. Se tivesse uma boca, beijava nela.

Exercício 2 – Escrever texto sobre um dos sentidos. Escolhi o paladar.

Conquistou o moço pelo paladar. Começou oferecendo um pão de batata caseiro com chá de mulungu. Ela nem imaginava que ele conhecesse tal chá com nome engraçado. Aceitou tudo feliz. "Come mais, é levinho", ela dizia a ele, que sorria e fazia cerimônia com vergonha de comer mais um pãozinho. Depois ela fez um almoço bem levinho: legumes bem temperados e risoto de quinoa com alho poró. Um dia, ele foi jantar a salada de feijão fradinho com empadão de massa de grão de bico e recheio de palmito. "Hum, que massa levinha", ele disse a ela.
A relação deles era leve como a comida dela. O peso da rotina deixavam lá fora longe das panelas.

Exercício 3 – Com base no texto “Uni-verso”, de Mário Quintana, escolher dois sentidos. Escolhi olfato e paladar.

O melhor das aulas de culinária é o cheiro das comidas quando começa a mágica: do cru para o cozido e do sem gosto para o gostoso. A berinjela, por exemplo, vira algo divino depois de cozida e bem temperada. Magia pura. O cheiro da folha de hortelã não se perde quando se mistura no meio dos outros temperos, foi o que descobri em uma das aulas. O alecrim, então, fantástico na horta, é divino salpicado em simples batatas assadas. Aulas de alquimia, isso sim, transformar legumes em iguarias. Não consigo descrever os sabores de cada receita porque o cheiro veio antes e me encantou. Melhor assim, pois, se começasse a falar dos sabores a essa hora, deixaria os colegas com mais fome.

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Quando a professora propôs o quarto exercício em sala de aula, a turma me proibiu de falar sobre comida. E, para piorar, todos me olharam do mesmo jeito que Big Jim olha para Chaplin no filme Em busca do Ouro*. Então, tive que apresentar Eufrásia, a gorda que me habita**, aos colegas do curso de Escrita Criativa e explicar que temos a preocupação com comida por causa das taxas altas.

“Ah bom”, exclamaram.

Em casa, contei como foi a aula para Eufrásia, que, divertida, falou “leva um lanchinho para eles!”. Boa ideia! E eu, prevenida, levei um bolo cenoura na aula seguinte para sossegar os ânimos.



* É um filme antigo (1925) e, para quem não viu, estou falando da cena que o ator Mack Swain (Big Jim) olha para Charles Chaplin e o imagina como um frango assado, tamanha fome que eles passam no Alaska. É a cena dessa foto que ilustra o texto.

**Ela foi apresentada aqui em 5/7/15.


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